A necessidade de alocar recursos ao financiamento do Programa Auxílio Brasil levou a equipe econômica a anunciar que irá desrespeitar o teto de gastos públicos.
A necessidade de alocar recursos ao financiamento do Programa Auxílio Brasil levou a equipe econômica a anunciar que irá desrespeitar o teto de gastos públicos.
A notícia caiu como uma bomba no mercado, pois usar recursos contingenciados para o pagamento de precatórios, além de ser um desrespeito àqueles que têm direitos de recebê-los e esperam a anos, ainda compromete as metas fiscais.
O desequilíbrio fiscal crescente põe em xeque a credibilidade do governo junto ao mercado. Por esta razão, o dólar valorizou 1,36% no momento do anúncio e a Bolsa de Valores fechou em queda, deixando os investidores apreensivos quanto a possibilidade do governo federal não vir a honrar seus compromissos de curto, médio e longo prazos .
Para além dessa questão, o descumprimento do teto de gastos implicará em novo aumento da taxa Selic, situação que tende a comprimir ainda mais a atividade econômica prejudicando o crescimento do nível de renda e dos empregos.
A expectativa de crescimento econômico da ordem de 5,4% defendida pela equipe econômica não terá ambiente para se confirmar, pois o mercado não convive com insegurança.
Uma turbulência como esta leva as empresas a utilizarem menos capacidade instalada, como resultado tem-se a queda do nível do produto agregado.
O cenário que se apresenta pode implicar num crescimento entre 3,5% a 4% praticamente neutralizando a queda de 4,6% em 2020.
A principal consequência desta desaceleração recairá sobre a taxa de desemprego que tende a superar a casa de 14,1%, dificultando ainda mais as coisas para o governo federal.
Paralelo a tudo isso, a inflação de custos continua crescendo e comprometendo praticamente toda renda dos trabalhadores que ganham menos.
A situação é grave haja vista que os três principais pilares do Plano Real não vêm sendo cumpridos com destaque: regime de metas de inflação, taxas de câmbio flutuantes e equilíbrio fiscal.
O permanente descumprimento das metas fiscais pelo governo federal poderá levar o Plano Real a ter o mesmo destinos daqueles planos econômicos que o antecederam.
Júlio Paschoal
Economista e professor da UEG-GO