Queria ser doméstica, virou empresária de luxo

O maior sonho da adolescente Ivana Menezes, que desde os cinco anos de idade ajudava os pais na roça, fazendo comida para os trabalhadores e capinando, era se tornar empregada doméstica. Tudo para mudar da fazenda para a cidade. Anos depois, com muita luta, fé, trabalho e sacrifício, se tornou uma empresária de sucesso no mercado de moda de luxo, a tal ponto de ser a proprietária da quinta loja multimarcas de referência no País no segmento em que atua.

É uma história de superações e vontade de vencer.

Ivana Menezes saiu de uma infância difícil e pobre no interior de Goiás para se tornar empresária em Goiânia

Ivana Menezes é a mais velha de quatro irmãos e, aos cinco anos de idade, já ajudava o pai Amadeus Menezes cozinhando mandioca com leite, arroz, feijão e carne. Quando ficou maior, ajudava a capinar. A empresária, entretanto, conta com orgulho a infância difícil na lavoura na área rural de Varjão, interior de Goiás.

“Tenho meu pai como inspiração. Me ensinou que tudo é possível, quando a gente realmente acredita e quer”, afirma Ivana ao EMPREENDER EM GOIÁS. Aos 13 anos de idade, com vontade de ter uma vida melhor, resolveu se mudar para Varjão onde morava a sua avó, para conseguir um emprego de doméstica. Não conseguiu. Casou-se aos 16 anos e mudou-se com o marido para Goiânia.

Foi quando surgiu a primeira oportunidade de ter seu negócio próprio: um pequeno pit dog (lanchonete) na capital. Em menos de dois anos, o casal decide comprar a segunda unidade, ambas no Setor Coimbra. Nesta época, Ivana já tinha uma filha de colo, que ficava com ela na lanchonete. Com apenas um funcionário, tinha de se desdobrar em abrir o negócio todos os dias, no atendimento aos clientes e nos cuidados da filha.

Com as dificuldades e um assalto, o casal decide vender um dos pit dogs e Ivana arruma emprego num escritório de contabilidade. Aproveita para retomar os estudos à noite num colégio público. Um ano depois, consegue emprego de estoquista numa loja de confecções. Era o seu primeiro contato com o mundo da moda. Descobria ali sua verdadeira paixão.

Meu mundo desabou. Perdi o chão. Mas uma força interior me ajudou novamente. Levantei e resolvi seguir em frente

Superação
“A loja se chamava Liberté e o dono me ensinou muito sobre o negócio, porque percebeu meu interesse e vontade de crescer. Comecei como estoquista, fui promovida a secretária, não demorou para virar vendedora e depois gerente”, diz. Ivana ficou quatro anos na loja. Estava indo muito bem até ser obrigada a deixar o emprego por conta de uma rara doença do seu segundo filho, que tinha menos de um ano de idade. Por conta disto, passou seis meses vivendo no Hospital de Base do Distrito Federal, em Brasília. Seu filho não sobreviveu. Neste período também sofreria outra grande perda: o pai, que faleceu aos 45 anos.

Apesar da insistência do dono da Liberté para ela voltar ao emprego na loja, Ivana decide vender roupas como sacoleira. Com seu bom relacionamento com atacadistas, vendia roupas a domicílio. Depois, percebeu que havia um mercado pouco explorado em Goiânia: de roupas importadas. Conseguiu fechar parceria com uma amiga também sacoleira, que todos os meses viajava para os Estados Unidos. Na época, a moeda brasileira estava valorizada perante o dólar. As roupas de marca importadas fizeram sucesso e, em poucos meses, Ivana montou bazar na garagem de sua casa.

Tudo ia muito bem novamente. Até que um dia, quando foi atender uma cliente que morava no Setor Central, Ivana foi vítima de furto. Levaram toda a sua mercadoria que lotava o interior do seu velho Chevette. “Meu carro valia uns R$ 5 mil a preço de hoje, mas tinha quatro vezes mais em mercadorias. Só que não tinha ainda pago nada dela, não tinha dinheiro para isto. Precisava vender primeiro. Meu mundo desabou. Sentei na calçada e perdi o chão. Mas uma força interior vinda de Deus me ajudou novamente. Levantei e resolvi seguir em frente”, afirma.

A primeira atitude de Ivana foi procurar os fornecedores para negociar o pagamento da mercadoria roubada. Por sua credibilidade e honestidade, conseguiu desconto de 20% no valor das roupas e 15 meses para pagá-las. Mas, nesta altura, já tinha decidido a não mais ser sacoleira. Temia novos assaltos. Foi quando, ao levar a filha ao dentista na Galeria 1 (Setor Oeste), viu um ponto comercial para alugar. “Bateu uma luz sobre mim. Alí, eu montaria a minha primeira loja. Só faltava arrumar dinheiro e convencer a imobiliária de alugar a sala para mim”, conta a empresária.

Dez dias depois, Ivana recebe telefonema informando que o ponto era dela e, imediatamente, liga para a fornecedora de roupas importadas para negociar a formação de estoque e uma comissão de 15% sobre as vendas. Em seguida, acredita na insistência de um primo para que colocasse o próprio nome – Ivana Menezes – na loja. “Seu nome é forte, é bonito, vai dar certo”, disse ele. Deu. O sucesso da loja foi meteórico. “Em seis meses, era a loja que mais vendia na Galeria 1. Em sete meses, já ia de ônibus para São Paulo comprar todo o meu estoque”, conta Ivana.

Mas a empresária foi provada mais uma vez: seu quarto filho nasceu com a mesma doença rara e também, depois de meses no hospital, não resistiria. Também enfrentaria o processo de divórcio.

“Nunca pensei que um dia venderia vestidos de R$ 20 mil. Aliás, nunca pensei que chegaria perto de um”

Consolidação
Nada disto abalou a empresária. Na verdade, fez ela mergulhar mais ainda nos negócios e, com uma clientela cada vez maior, abriu a segunda loja no Setor Marista. Mas a grave crise econômica do final da década de 90 quase levou Ivana Menezes à falência. A empresária ficou tão desanimada que pensou em desistir. “Era tanto cheque devolvido que não tinha mais condição de comprar em São Paulo. Parava com o negócio ou vendia tudo que tinha para pagar. Vendi meu apartamento”, afirma.

Com o dinheiro, Ivana coloca novamente o seu negócio nos trilhos e abre nova loja em imóvel que serviria também de residência nos fundos. É onde hoje funciona a loja Mezs, que vende moda fast fashion, administrada pelas filhas Jacqueline e Jhennifer. Para não cometer os mesmos erros de gestão financeira da empresa, Ivana decide fazer faculdade de administração. Neste período, ao perceber uma nova demanda do mercado, decide abrir outra loja, especializada em roupas de festa.

Ivana Menezes se tornara referência no mercado de moda de luxo em Goiânia e atendia clientes de todo o Estado e de outras capitais do País. “Já tínhamos as melhores marcas do Brasil em parceria com estilistas renovamos, como o Sandro Barros e a Patrícia Bonaldi. Inovamos também ao promover desfiles com estes estilistas, em Goiânia”, diz.

Vinte anos depois de superar todos os tipos de dificuldades e começar sua carreira como empresária de moda de luxo, Ivana Menezes realizava em 2015 um grande desfile beneficente, no Palácio das Esmeraldas, com as presenças do governador Marconi Perillo e da primeira-dama Valéria Perillo. “Nunca imaginei que um dia sentaria ao lado do governador e da primeira-dama do Estado. Jamais imaginei que venderia vestidos de R$ 20 mil. Aliás, sequer pensei que chegaria perto de um vestido destes”, diz Ivana, sempre com um sorriso que cativa pela humildade e simpatia.

Mesmo com a grave crise econômica atual, Ivana não para de investir. Quando a maioria dos empresários engaveta investimentos, há um ano ela inaugurou sua maior e moderna loja na Rua 135, Setor Marista, depois de comprar o prédio e realizar uma ampla reforma. A empresária goiana tem planos ambiciosos para o futuro, mas prefere mantê-los em sigilo.

Ivana afirma que criar experiências para as clientes foi fundamental para o crescimento da sua marca neste concorrido mercado. “Loja de roupa tem em toda a esquina. Por isso, criamos o nosso diferencial, que é de promover experiência única para cada uma de nossas clientes que decidem comprar desde roupas para o dia a dia até vestidos de R$ 30 mil”, frisa a empresária goiana, que virou referência nacional no mercado de moda de luxo.