Antônio Benedito dos Santos, da Creme Mel: vontade de ficar perto da família foi determinante para o início da empresa
A indústria goiana Creme Mel é hoje a maior fabricante nacional de sorvetes e compete no mercado brasileiro com multinacionais como Kibon e Nestlé, com uma produção anual de 36 milhões de litros de sorvetes e 1,4 mil funcionários. Está presente em 17 Estados e, em 2015, adquiriu a indústria de sorveteria pernambucana Zeca´s, de a principal do setor no Nordeste do País.
A Creme Mel foi criada pelo empresário Antônio Benedito dos Santos que, ainda muito jovem, tinha o sonho de ser motorista de ônibus. Na época, era cobrador no transporte coletivo de Goiânia. Não demorou para realizá-lo e, ao tirar habilitação com 20 anos de idade, conseguiu emprego de motorista na Transbrasiliana. Mas, por conta das longas viagens interestaduais, que o obrigavam ficar muito tempo fora de casa, constatou que só ficaria mais perto da mulher e filha se deixasse a profissão.
Então, aos 34 anos, Antônio Benedito largou o emprego de motorista que sustentava sua família e, com o dinheiro da rescisão – o equivalente a R$ 15 mil, nos valores de hoje -, decidiu abrir uma sorveteria artesanal na garagem de sua casa no Setor Cidade Jardim, em Goiânia.
No início, lembra o empresário, foi desaconselhado até pelo contador que fez o primeiro registro da sua empresa, literalmente de fundo de quintal. “Ele perguntou: por que o senhor não monta outra coisa? O senhor já viu alguma sorveteria crescer?”, conta Antônio Benedito ao EMPREENDER EM GOIÁS.
Mesmo desacreditado, o então microempreendedor não desistiu. Em 1987, iniciou a produção em casa, onde usava um caldeirão de cinco litros para ferver o leite no fogão. Era a sua capacidade de produção.
“Tudo o que pensei não era fácil. Pensei em supermercado, em loja de roupa, mas não tinha experiência e não sei se me sairia bem. Foi aí que pensei no sorvete, de criar algo diferente de tudo e que fosse muito bom”, afirma Antônio Benedito, que usou o dinheiro do acerto rescisório para comprar uma máquina usada de fazer sorvete, um freezer de segunda mão e quatro carrinhos de picolé.
Segredo do sucesso
Como é quase uma regra nas histórias de sucesso empresarial, o início foi de muito trabalho e persistência. Apenas a mulher ajudava o empresário na produção dos sorvetes. “Eu fazia picolés, às vezes até meia-noite, e tirava uma parte da noite para fazer entregar em uma caminhonete. Outras vezes, avisava que estava saindo para fazer entregas e minha mulher recebia os clientes que apareciam na porta de casa”, relembra.
O segredo para o crescimento da Creme Mel foi apostar num produto diferente do que já existia no mercado, além do investimento em matéria-prima de qualidade. “Colocamos leite em pó no leite para ficar mais consistente e sempre trabalhamos com frutas naturais como maracujá, goiaba, banana e abacaxi. Isso deu uma alavancada muito grande na empresa. Quando faço um produto que gosto, sei que ele terá boa aceitação”, afirma Antônio Benedito.
Disposto a criar um produto de qualidade, o próprio Antônio Benedito criava as receitas dos sorvetes. Se fizesse um picolé de melhor qualidade e sabor, ele próprio tomava a iniciativa de trocar todas suas mercadorias (por sua conta) nos freezers em mercados e bares, pois apostava que o cliente e o dono do estabelecimento iriam gostar mais do novo produto. Cativava, desta forma, a clientela. O empresário, ciente de que precisava aprender sobre gestão empresarial, começou a participar de vários cursos profissionalizantes.
Antônio Benedito: “Pensei em supermercado, mas não tinha experiência e não sabia se sairia bem. Aí pensei no sorvete.”
A Creme Mel ainda experimentava um crescimento tímido. Para ajudar na expansão do negócio, Antônio Benedito passou a investir em novos pontos de venda e na compra de freezers, que o ajudaram a distribuir seus produtos na capital goiana. Detalhe: muito controlado nos custos, o empresário era (e continua sendo) avesso à contratação de empréstimos e financiamentos de longo prazo. A maioria dos investimentos na expansão era bancada com recursos próprios.
A estratégia funcionou e, em menos de dez anos, a pequena fábrica na garagem de casa ficou pequena e obsoleta. Em 1996, o empresário decide contratar um financiamento de US$ 1 milhão do Fundo Constitucional Centro-Oeste (FCO) para construir a sua primeira fábrica, no Jardim Petrópolis (Goiânia). “Era uma necessidade. Chegou a um ponto que a energia começou a cair lá em casa por não suportar mais a produção na garagem. Mas eu precisava atender os pedidos, que só cresciam”, diz.
Detalhe: sobre o financiamento do FCO, que tinha dois anos de carência e até seis anos para quitar a dívida, Antônio Benedito pagou todo o empréstimo em apenas um ano.
Em 2003, surge a oportunidade de expandir ainda mais a Creme Mel, que nesta época já era uma indústria de médio porte em Goiás. Foi quando o ex-patrão Odilon Santos (Transbrasiliana) comprou a fazenda que fornecia quase a totalidade do leite (vacas jersey) para a fábrica de Antônio Benedito. Numa conversa para manter o fornecimento, Odilon Santos propõe uma sociedade e seu ex-funcionário topa, com apenas uma condição: não queria embolsar nada pela venda da metade da Creme Mel, mas que todos os recursos fossem investidos no crescimento da empresa.
Com o aporte de capital, que possibilitou a aquisição de equipamentos de última geração, todos comprados na Europa, a Creme Mel se expande para outros Estados. “O crescimento da empresa foi em torno de 50% ao ano”, afirma Antônio Benedito.
Dez anos depois, em 2013, a indústria goiana recebeu proposta de compra da metade das ações do fundo de investimentos privado HIG. Era o capital necessário para profissionalizar a gestão (com 60 anos de idade, Antônio Benedito já se preocupava com o futuro da empresa que criou) e consolidar ainda mais a Creme Mel no mercado nacional e fazer frente à forte concorrência. Os recursos também permitiram a aquisição da Zeca´s, maior rede de sorvetes do Nordeste, em 2015.
A indústria goiana Creme Mel detém 6,3% de participação do mercado brasileiro, quase empatada com a multinacional Nestlé, que está presente em todo o País e tem 6,5%. A líder é outra multinacional, a Kibon, com 35% de mercado.
Dificuldades
O empresário Antônio Benedito critica os custos da legislação trabalhista do País, que engessa o crescimento empresarial e inibe a contratação de mais trabalhadores, além da altíssima carga de impostos. “Só no ano passado, uma decisão do governo federal afetou muito o nosso negócio, quando aumentou o IPI sobre sorvetes em quase 500%. A gente pagava R$ 0,10 por pote e passamos a pagar R$ 0,50”, afirma. O que tem compensado o abrupto aumento da carga tributária federal, mantendo o negócio ainda viável, é a política de incentivos fiscais do Governo de Goiás. “Não fosse isto, não estaríamos tendo esta conversa hoje”, garante o empreendedor.
parabens antonio pelo seu empreendedorismo goiano e hoje sucesso Nacional
Parabéns pela visão de negócios e gestão empresarial exemplar, muito sucesso sempre
Uma excelente empresa para se trabalhar.
É uma pena que ela deixou o estado do Mato Grosso do Sul.
Eu estava acreditando muito na Creme Mel.
Um exemplo de garra e determinação.Nos faz entender que é possível alcançar nossos sonhos! Acreditar e trabalhar …Receita de sucesso!
Altamente descritivo artigo, eu gostei que muito. Haverá uma
parte 2?
Eu trabalhei na Creme Mel Sorvetes quando era na “metade da sua casa” e sei que o “Toizinho” (tratado carinhosamente) é um guerreiro e mais do que lucro, ele visava sempre a qualidade. Tenho orgulho de conhece-lo e ter trabalhado para esse homem magnífico e visionário.Parabéns pelo seu sucesso