quinta-feira, 25 de abril de 2024
Crise para nós é fermento, diz presidente do Bancoob

Crise para nós é fermento, diz presidente do Bancoob

Embora tenham hoje apenas 4% do mercado financeiro nacional, as cooperativas de crédito crescem a uma velocidade de três a quatro vezes maior que as dos bancos tradicionais de varejo, mas já competem em pé de igualdade. Com a vantagem de cobrarem menos dos correntistas e oferecerem juros menores em empréstimos. A avaliação é do […]

8 de setembro de 2017

Embora tenham hoje apenas 4% do mercado financeiro nacional, as cooperativas de crédito crescem a uma velocidade de três a quatro vezes maior que as dos bancos tradicionais de varejo, mas já competem em pé de igualdade. Com a vantagem de cobrarem menos dos correntistas e oferecerem juros menores em empréstimos. A avaliação é do presidente nacional do Bancoob, Marco Aurélio de Almada, nesta entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS.

Que tamanho tem hoje as cooperativas de crédito no mercado financeiro nacional?
Temos alguns indicadores diferentes para entender isso. Do ponto de vista do crédito, representamos hoje 3% do mercado. No critério depósito, vamos a 6% e em patrimônio líquido chegamos a 7%. De forma que podemos falar que 4% de participação em tudo que circula de dinheiro no sistema financeiro nacional representa bem o que somos hoje no País. E só o Sicoob representa 45% desse bolo cooperativista financeiro.

O que falta para as cooperativas competirem em pé de igualdade com os bancos tradicionais?
Em termos de produtos e serviços, para nós ficarmos equiparados 100% aos cinco maiores bancos do varejo do Brasil, só falta termos a carteira própria de câmbio, o que deve entrar em atividade no primeiro semestre do ano que vem. Feito isso, teremos a oferecer tudo o que um banco de varejo oferece.

Presidente nacional do Bancoob, Marco Aurélio de Almada

 

As cooperativas lidam melhor com crises do que os bancos?
A crise para nós é fermento, porque sempre atuamos na lacuna do mercado. Quando tem crise, os bancos tradicionais ficam mais seletivos, aumentam tarifas, arrocham o crédito. Aí a lacuna cresce e, como nós ocupamos lacunas, crescemos nesse vácuo aí. De um lado isso é oportunidade, mas é também uma necessidade das pessoas que conseguimos atender, por isso crescemos mais do que os bancos tradicionais na crise.

Há quem fale que os vários sistemas do cooperativismo de crédito do Brasil, com Sicoob, Sicredi e outros independentes, seja um entrave ao crescimento do setor. O cooperativismo de crédito pode crescer dividido?
Ele é dividido por uma questão de origem. O sistema nasceu depois das cooperativas. O Sicoob, por exemplo, nasceu em 1996, quando muitas cooperativas já existiam. Então, muitas estão fora do sistema e são independentes porque surgiram antes e nunca foi obrigado a se integrar ao sistema. Mas com o sucesso dos sistemas e o crescimento e robustez financeira que eles ganharam, acabou atraindo mais e mais cooperativas para um sistema. Acho que em mais 10 ou 15 anos não haverá mais cooperativas fora de um sistema. E a união dos próprios sistemas é uma tendência também. Aconteceu aqui em Goiás, por exemplo, com o sistema Unicred se unindo ao Sicoob, por livre e espontânea vontade, porque ela, Unicred, viu mais valor agregado em se associar a um sistema maior do que continuar como antes. Então eu acho que essa união total vai chegar e se avizinha.

Que contribuição a regulamentação trouxe para o cooperativismo de crédito no Brasil?
Acho que a regulamentação já surtiu o efeito desejado, quando corrigiu uma época de quebras e prejuízos. A primeira coisa que o cooperativismo de crédito precisa para poder crescer é solidez. Acho que a regulamentação trouxe essa solidez por induzir ao profissionalismo e à boa gestão. Segundo, é preciso competência, qualidade e preço e isso nós temos demonstrado ter. De forma que o setor não é mais promessa no Brasil, é realidade. Assumi o Bancoob há oito anos com R$ 5 bilhões em ativos total e hoje temos quase R$ 44 bilhões. Isso não é mais promessa. E o Bancoob é reflexo das cooperativas, só cresce se as cooperativas crescerem, porque quem bota dinheiro lá no Bancoob são as cooperativas.

O sistema cooperativista de crédito pelo mundo tem exemplos importantes de tamanho e capilaridade social. Que país mais o impressiona nesse aspecto?
A Alemanha tem 27% de seu mercado financeiro abarcado por cooperativas de crédito. É bem expressivo. As cooperativas de crédito lá têm um papel importante de capilarizar o dinheiro, de forma que não há lá nenhum município que não seja assistido por pelo menos uma cooperativa. Mas há casos mais impressionantes ainda. No Canadá de língua francesa, tem o Sistema Desjardins que chega a cifras superiores a 50% do mercado financeiro deles. São números muito potentes e mostram o vigor desse setor mundo afora.

Onde as cooperativas de crédito podem chegar no Brasil?
O cooperativismo de crédito já é uma realidade concreta, já provou que funciona e que entrega valor. E o futuro dele é chegar a atingir uma cota de mercado que permita a ele passar a funcionar como ente regulador desse mercado, que é quando os bancos passam a orientar seus preços e suas condições de acordo com o que nós fazemos. Quando isso acontecer, acho que já teremos cumprido nosso papel. E acredito que cumpriremos isso muito proximamente.

Wanderley de Faria é jornalista especializado em Economia e Negócios, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA/FEA/USP - BM&FBovespa

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One thought on “Crise para nós é fermento, diz presidente do Bancoob”

  1. Parabéns pela entrevista. O Portal Empreender em Goiás presta um relevante serviço para o empresariado goiano. O cooperativismo financeiro realmente veio para ficar!