Milhares de brasileiros têm descoberto que podem deixar de ser apenas um cliente comum de banco, muitas vezes mal atendido e sobretaxado. O nome desta pequena revolução chama-se cooperativismo de crédito que, desde a ampliação de sua regulação pelo Banco Central no início dos anos 2000, não para de crescer no País, mesmo em tempos […]
Milhares de brasileiros têm descoberto que podem deixar de ser apenas um cliente comum de banco, muitas vezes mal atendido e sobretaxado. O nome desta pequena revolução chama-se cooperativismo de crédito que, desde a ampliação de sua regulação pelo Banco Central no início dos anos 2000, não para de crescer no País, mesmo em tempos de crise econômica.
A explicação é simples: na cooperativa a pessoa não é mera cliente, passa a ser também dona do empreendimento cooperativo, adquirindo uma cota-parte. Cada cooperativa de crédito tem seu próprio estatuto e sua política, mas é possível se associar a partir de R$ 50,00. Lembrando que o dinheiro aplicado na cota-capital é do próprio associado. Isso faz com que nenhum banco, seja público ou privado, consiga atender melhor a esse “cliente” do que uma cooperativa, que oferece os mesmos produtos e serviços financeiros.
Atualmente, no Brasil, cerca de 9 milhões de pessoas já são cooperadas de uma das mais de 1 mil instituições financeiras do gênero. Em Goiás, as cooperativas de crédito já reúnem quase 130 mil pessoas e cerca de R$ 6 bilhões em ativos nos dois principais sistemas Sicoob e Sicredi, de acordo com dados do Sicoob Goiás Central, uma das três centrais sediadas no Estado (duas do Sicoob e uma do Sicredi). Crescendo cerca de 18% ao ano em Goiás, em média, essas instituições financeiras fecharam 2016 exibindo um resultado positivo de R$ 330 milhões.
Concentrado em três grandes sistemas (Sicoob, Sicredi e Unicred), o cooperativismo de crédito conta com mais de 5,7 mil postos de atendimento em todos os Estados brasileiros e está presente em 90% dos municípios, em muitos deles sendo a única instituição financeira disponível. Todas as bandeiras (sistemas) de cooperativas de crédito no País já representam, somadas, a sexta maior instituição financeira do mercado. Os ativos totais chegam a R$ 221 bilhões e giraram R$ 81,8 bilhões em empréstimos no ano passado.
Vantagens
As vantagens comparativas de participar de uma instituição financeira compartilhada são percebidas logo no início. “Mesmo nos momentos de crise e arrocho no crédito, a tomada de dinheiro sai mais em conta numa cooperativa”, afirma Luís Alberto Pereira, presidente do Sicoob Engecred, a terceira maior cooperativa de crédito no Estado, ao EMPREENDER EM GOIÁS.
“Enquanto nos bancos o lucro é distribuído entre os acionistas, no cooperativismo de crédito as sobras são distribuídas entre os cooperados que são ao mesmo tempo usuários e donos da instituição financeira”, diz José Salvino de Menezes, presidente do Sicoob Goiás Central e vice-presidente do Conselho de Administração do Banco Cooperativo do Brasil, o Bancoob, braço financeiro das cooperativas do Sicoob no País.
Mesmo diante da crise econômica no final de 2015, que se acentuou em 2016, a cooperativa goiana fechou o ano apresentando números sólidos. “Remuneramos o capital do associado a 100% da taxa Selic média anual. Em 2017, a perspectiva é de voltarmos a distribuir boas sobras. Trabalhamos com a possibilidade de retornar ao associado cerca de 2% sobre o volume médio anual de suas movimentações. Se terminarmos o ano com a taxa Selic a 8%, isso significa um rendimento extra de 25%, dinheiro que não teria nos bancos comerciais”, diz Luís Alberto.
Há pelo menos dez anos, quando o Conselho Monetário Nacional flexibilizou as regras de atuação, o setor cresce num ritmo de dois dígitos anualmente. O Sicoob fechou o balanço de 2016 com aumento de 7,2% no resultado financeiro, sobras de R$ 2,5 bilhões (contra R$ 2,38 bilhões em 2015). Já os ativos totais somaram R$ 76,3 bilhões, crescimento de 32,5% em relação ao ano anterior, segundo dados do Bancoob.
Expansão
Além das vantagens imediatas aos cooperados, como ter os mesmos produtos e serviços dos bancos com taxas mais vantajosas e participar das sobras ao final de cada exercício, outro horizonte de atração para o cooperado surgiu em 2013, quando o Banco Central criou o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito, semelhante ao Fundo Garantidor de Crédito do sistema financeiro tradicional, que garante ao cooperado até R$ 250 mil em caso de dissolução (falência) da cooperativa. Segundo especialistas ouvidos pelo EMPREENDER EM GOIÁS, o novo fundo aumentou as condições de igualdade na competição no mercado financeiro.
Com isso, e o crescente interesse na modalidade bancária cooperativa, há a expectativa de que muito em breve o Brasil se aproximará dos índices europeus de participação das cooperativas no sistema financeiro nacional. Na Alemanha, por exemplo, cerca de 30% de toda a movimentação bancária do país é feita por cooperativas de crédito. No Brasil são, ainda, módicos 4%.
Para esse crescimento do cooperativismo de crédito se massificar no Brasil, só falta o setor aprender a se comunicar melhor e mostrar as vantagens em relação aos bancos comerciais, inclusive citando o vasto portfólio de produtos e serviços, o time de profissionais especializado em assessorar o cooperado em sua gestão financeira, os horários de atendimento mais flexíveis, sem falar do cafezinho e de confortáveis estruturas físicas disponíveis aos “clientes”, coisa que nenhum banco (público ou privado) sugere oferecer.
É de se pensar! A gente fica aí sendo explorado nesses bancos… ótima reportagem!!!